Variação #9:

por Luisa Geisler*

the flesh covers the bone
and they put a mind
in there and
sometimes a soul,
and the women break
vases against the walls
and the men drink too
much
and nobody finds the
one
but keep
looking
crawling in and out
of beds.
flesh covers
the bone and the
flesh searches
for more than
flesh.

there’s no chance
at all:
we are all trapped
by a singular
fate.

nobody ever finds
the one.

the city dumps fill
the junkyards fill
the madhouses fill
the hospitals fill
the graveyards fill

nothing else
fills.

Alone With Everybody, de Charles Bukowski

Feliz aniversário

As tias haviam permanecido no carro, Sofia e a mãe só buscaram o bolo, questão de minutos. Saíram da confeitaria, a mãe carregando, com as duas mãos, a caixa. No banco do carona, Juliana, a prima, destravou as portas. Emagrecera muito desde a última vez que ela e Sofia viram-se. Os óculos de sol, a janela escancarada, o calor de trinta graus e a camiseta de mangas longas da prima eram uma contradição.

As duas tias, ambas com IMC de classificação de, no mínimo, obesidade mórbida, empurraram-se para que Sofia entrasse no carro banco de trás ao lado delas. A mãe de Sofia insistiu que ela colocasse o sinto de segurança. Sofia colocou-o, ajustou a postura, sentiu o apertão no peito. Ajustou as pernas com dificuldade no banco de trás do carro. As tias apertavam-se, grunhindo a cada movimento de Sofia. Enquanto a mãe colocou devagar a caixa de papelão no colo de Sofia, encheu Sofia de recomendações. A caixa gelada pesava no colo de Sofia.

Sofia mexeria mais as pernas se pudesse, se não tivesse um metro e oitenta. Um metro e oitenta que se tornaram um metro e oitenta só de pernas. O banco vibrou enquanto a mãe ligava o carro e dirigia-se à casa de Juliana e da tia. Juliana permaneceu em silêncio, futricou nas mangas, puxou-as para cima das mãos.

As tias voltaram à conversa em voz alta com a mãe de Sofia. Falavam da festa. O calor deixava marcas de suor nas roupas das tias, na região das axilas. Sofia concentrava-se no bolo dentro da caixa. O bolo da prima era bonito, sim. Coberto com confetes coloridos, o recheio tinha camadas coloridas das cores do arco-íris e o glacê era magenta. O peso pressionava as pernas de Sofia, machucava. As pernas das tias pressionavam Juliana contra a porta. As tias falavam dos salgadinhos, da festa, dos convites, da decoração da casa, telefonemas, de quem viria à festa, de quem não viria, xingavam os ausentes com palavrões.

― É claro que não é aniversário dela ― disse uma tia ―, mas nem por isso as pessoas tinham que deixar de comparecer. É um momento especial a todos. ― A mãe de Sofia disse:

― É que muita gente se magoou. Acham que é coisa de gente mimada.

― E não vir quer dizer o quê?

Juliana pediu, sua voz baixa, pediu que mudassem de assunto, que falassem de outra pessoa. A tia voltou a falar dos salgadinhos de festa.

 O carro abafara-se com a espera sob o Sol. As pernas da tia ao lado apertavam cada vez mais Sofia contra a porta do carro e contra a gordura da tia. Sofia sentia suas pernas mergulharem no tecido adiposo, a gordura da tia abraçava o raquitismo de Sofia. Sofia respirou fundo, sentindo o cheiro do aromatizador de lavanda. Náusea. Faltava-lhe ar, faltava-lhe ar, todo o ar do carro e o das janelas escancaradas eram supérfluos, faltava-lhe ar dentro do pulmão, ela nunca encheria o peito de ar por completo, faltava-lhe silêncio. Sofia inspirando e expirando, repetindo para si que tudo ficaria bem, a umidade do bolo atravessando a caixa atravessando a calça jeans até as coxas magras.

Juliana virou o pescoço para trás, o cinto de segurança impedindo-a de virar-se inteira. Juliana olhou para Sofia por trás dos óculos de sol. Os óculos de sol cobriam metade do rosto e metade da expressão. Com um sorriso literalmente amarelo, Juliana disse com a voz baixa:

― Tá tudo bem aí contigo?

Fazia apenas uma semana que Juliana voltara para casa. A umidade do bolo atravessava a caixa e atravessava regata de Sofia, grudava na barriga. Juliana perdera tantas aulas na universidade, talvez o semestre inteiro, reprovaria por faltas. Sofia sentira a falta da prima durante Antropologia IV, quis dormir durante todo o pós-estruturalismo.

O celular tocara num dia de calor idêntico. Sofia lembrava que naquele dia vestira um moletom a mais do que precisava e passou calor no hospital sem poder tirá-lo. Sofia não se recordava se o calor pertencia àquele dia ou aos moletons. Mas o corpo inteiro suara. Parecia a Sofia que tudo aquilo fazia anos, mas foram semanas. Sofia recebendo a ligação dos tios no meio da tarde, convocaram ela e a mãe ao hospital. Os tios deveriam estar em viagem, mas sentiram-se culpados de deixar Juliana sozinha. A família deveria viajar em conjunto, como sempre fizera. Voltaram. Na sala de espera, as lágrimas emolduravam os discursos de “e se…”, jogando as culpas em todos os lugares e pessoas.

― A culpa foi daquele merdinha ― a mãe de Juliana passou os dedos sobre os olhos ― eu sei que foi… ― A mãe de Sofia alcançava um lenço, o qual a mãe de Juliana afastava num tapa:

― Não tô chorando. ― A mãe de Sofia continuava estendendo o lenço, insistia que o médico dissera que o pior já passou, Juliana estava bem, estava ali.

Quando eram pequenas, Sofia e Juliana gostavam de dançar atrás da casa, perto da laranjeira apodrecida. A tia derrubaria a laranjeira para aumentar a garagem. Juliana chorou trancada no quarto ao saber da laranjeira. Juliana sempre fora sensível demais.

Sofia sorriu, o bolo pesando-lhe no colo. O carro vibrava com o movimento do motor, movimento das ruas. O cheiro de suor que vinha das tias e dela mesma não a incomodava. O mormaço do carro, a umidade que ela mesma lançava em sua camiseta regata, em sua testa, em torno de seu cabelo loiro preso num curto rabo-de-cavalo, nada daquilo a incomodava. Sorriu para Juliana.

­― Tudo ótimo.

*Luisa Geisler:

seu livro de estreia, Contos de Mentira, foi agraciado com o Prêmio SESC de Literatura 2010/2011. Luisa já ganhou um ou outro concurso literário, publicou em uma ou outra antologia e revista, já fugiu de casa e arrancou os sisos. No momento, estuda Relações Internacionais e faz monitoria de pesquisa em Conjuntura Econômica. Escreve. Nasceu em 1991 em Canoas (RS).

Variação #8:

por Bruna Maria*

 

Os que avançam de frente para o mar

E nele enterram como uma aguda faca

A proa negra dos seus barcos

Vivem de pouco pão e de luar.

Lusitânia, de Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Lisboa

Lembro de casa toda vez que vejo o mar. Há a presença de todas as histórias possíveis nesta visão plácida, à distância, na qual a água parece um espelho intacto, imóvel. Reflete os sonhos que às vezes perco. Não raro desejo tomar um navio, e voltar. Voltar: para a casa que abriga a primeira linha de uma história universal. Mas, estou aqui. E isso custa muito. Portanto, determino não sentir este lampejo de fuga, esta disposição de saudade. Assim, centro-me e fico.

Quando for mais tarde, estarei em um desses bondes, como os antigos. Há um encontro marcado e, dessa vez, prometi comparecer. Será hora de devolver as chaves do apartamento. Será hora de definir um novo dia que possa, quem sabe, acabar com a recordação de fraquezas tão mais visíveis com a incidência da luz que vaza pelas brechas da cortina.

Quando vejo o mar, assim de longe como vejo agora, tenho desejo de partir sem me despedir. É como o último presente que se pode dar: nunca terminar, deixar para sempre em contínuo, sem que eu devolva as chaves, sem que eu ouça as últimas determinações, sem que eu tenha de difundir as sentenças que reafirmam que, sim, nós falhamos, nós sempre falhamos em algum ponto, e que teremos que descobrir uma forma de coabitar a mesma cidade, de redescobrir as nossas peles, de nos esconder em outros cafés.

O mar que vejo, eu vejo de longe. É o meu fracasso. Está estampado no verde-azul tão calmo que se define à distância. Não me cabe o esforço do movimento, a audácia da partida. A coragem não pode me consolar. E fico.

Ficando, eu penso. E é provável que, partindo, eu vá dar no mesmo lugar em que estou, apenas com a diferença de ângulos: espelho reverso – eu, ele, mar, bondes e cafés refletidos, estampados para onde quer que eu vire o espelho.

De noite, quando as luzes acenderem, a cidade terá um céu imenso, longe do brilho das lâmpadas, e eu descerei do bonde na viela pouco iluminada. Alguém me espera.

Deixarei as chaves do apartamento em um dos bolsos de seu paletó. As palavras serão excesso. Daremos um último beijo, mecânico, amor de hábito, maquinal. E um bonde escuro estará parando como a me esperar para a volta. Eu tomarei este bonde, sem olhar para trás.

Voltarei. Voltarei toda a história, todo o caminho, até tornar a ver o mar, ancorada no breu indefinido de uma noite.

– Onde é mesmo que nós estávamos?

E não haverá nenhuma estrela no céu.

*Bruna Maria:

carioca, formada em Letras e atualmente mestranda em Literatura Portuguesa (UERJ). Acaba de escrever seu primeiro romance, que foi selecionado, em 2010, pela Fundação Biblioteca Nacional para receber amparo do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa durante o término de sua escritura. Tem alguns contos selecionados em antologias a serem publicadas em 2011. Foi 3º lugar no concurso de contos promovido pela Casa do Novo Autor Editora, em março de 2011. Tem textos publicados em sites da internet, como na Revista Germina Literatura e no Blog do Jornal Plástico Bolha. Além disso, edita este projeto aqui. Enquanto não publica seu romance, ela bloga sobre leituras e afins em http://blog.brunamaria.com.   

 

Aos leitores:

Peço desculpas aos leitores d’As Variações Literárias pelo atraso da variação #8.

Em virtude de problemas de ordem prática, não foi possível colocar o texto no ar no mês de outubro (que seria originalmente o mês da citada variação). Mas, como diz o ditado, “antes tarde do que nunca”, e estamos de volta, nesse mês de novembro.

Lamento pelo atraso! E espero que aproveitem a variação #8.

(Aproveito para lembrar que estamos recebendo material, constantemente, pelo email asvariacoesliterarias[a]hotmail.com).

Boa leitura!

Bruna Maria – editora.

Variação #7:

por Hugo Crema*

 Algo de ese terror se trasformaba en gracia, en gestos casi esquivos, en puro deseo. (Algo desse terror se transformava em graça, em gestos fugidios, em puro desejo.) Do conto El Otro Cielo, do Julio Cortazar.

Gravidade aparente. Os trinta segundos deram espaço para um dos canais contar apenas metade da notícia, editada até o talo na tentativa de deletar as intrusões. Após usar o cameraman robusto para abrir espaço por entre a multidão, a repórter, sem consultar nenhuma possível testemunha ocular ou mesmo alguém que estivesse por perto na hora do ocorrido, noticia a cena óbvia; as feições de curiosidade carnívora das pessoas em volta caíram bem de pano de fundo, acentuaram o drama. Uma grávida inserida no grupo de curiosos que se avolumou em torno do que a repórter chama sucinta de atropelamento fatal na plataforma inferior da rodoviária guarda para si uma interjeição por tido seu pé pisado na pressa da equipe de filmagem. Chega a murmurar algo para o homem ao seu lado, mas a cara de dor dele a faz conter as palavras no último momento; não só isso, contém palavras também por causa de alguém mais alto que no exato do contido gemido de dor se posta bem na frente dela tampando a visão da cena e o alcance da reclamação, raiva surda, muda e cega. O problema é o estrondo dos carros passando a toda na pista em frente, não deixa ouvir nada do que a repórter diz. Perdem pouco: as escoriações na cabeça do corpo estirado suprimem qualquer dúvida, obviamente um atropelamento e obviamente fatal. Quem pôde ouvir a repórter era quem estava mais distraído; o homem à esquerda da grávida estava mais perto da clareira em torno do acidente, encalhou no meio da multidão procurando um banheiro e no momento relê as escoriações na lataria do carro, parado enviesado, a roda dianteira esquerda engolindo o meio-fio. Quando a raiva pelo pé pisado e pela obstrução da vista estoura a represa do silêncio, a grávida emparelha à direita do  homem alto e pergunta como é possível que um atropelamento destrua tanto a frente de um carro, ao que, a pretexto de perguntar onde fica o banheiro, o outro homem se intromete: pelo que ele viu do acidente, o lado direito do para-choque acertara o velho de raspão. A voz do motorista, recém-saído do carro, se submerge no barulho atrás de esconderijo e consegue, tanto é que, apesar da distância curta, a grávida e o alto só o veem gesticular violentamente, a boca desleixada sempre aberta, como se esquecida nesta posição. O homem multiplica a prestidigitação dos braços sem sucesso, ao tentar apoiar uma mão contra o ombro da repórter é avidamente repelido, ela deu um passo para trás e o cameraman faz menção de projetar o corpo levemente para frente: clara ameaça seriam as palavras que o atropelador usaria depois para caracterizar esta ação frente às câmeras de uma outra rede de televisão, a que se interessará por esta versão. Uma rede cujo repórter de campo demorou a chegar e cuja equipe de filmagem também pisa no pé da grávida. O porra amigo, toma cuidado, tem grávida aqui do homem alto confirma que o entendimento dele da irritação dela não precisou de palavras, e ainda foi reiterado por um pé displicente deixado no caminho do assistente de gravação para fazê-lo tropeçar. Funcionou em parte, não cai, tropeça, berra cambaleante ao cameraman para esperar por ele mas não é ouvido: mais um atraso em relação à emissora concorrente, cuja repórter já enfurecia a má-vontade adquirida do atropelador com perguntas que ele considerou em testemunho posterior ao repórter concorrente ofensivas e tendenciosas. Enquanto isso, o homem de caminho extraviado e bexiga cheia pergunta à grávida onde fica o banheiro, ao que ela retruca irritada e é acalmada pelo alto o qual, ao indicar a ele a direção, tampa a sua própria visão e a da grávida com o braço e perde a reviravolta. O repórter atrasado tenta arrancar o atropelador dos tentáculos das perguntas da rival, deu sorte porque o corpo estirado no chão recobrou a consciência, engrolou uma sequência de consoantes e começou a reivindicar pontuação inverossímil. Contando o número de hematomas e estimando a extensão e a profundidade de arranhões, resmungando; o velho mal levantou e vira presa dos repórteres. O alto entabula com a grávida um pré-assunto sobre o aguçamento das sensibilidades física e emocional na gestação, pretexto para um convite para um caldo de cana ali na rodoviária mesmo, ela concorda: os dois se afastando notam cada vez menos o murmúrio, nem chegam a ouvir o velho ressuscitado contar para a câmera da aposta feita com um amigo, velho e desenganado também, ganha quem colecionar mais machucados sem morrer. Depois de prometer ao proprietário do carro pagar os danos e depois de acompanhar, como prometeu, o repórter ao estúdio para uma exclusiva na qual tentarão explicar como uma queda de uns cinco metros, da altura da marquise, não matou o velho; ele pretende ligar para o seu amigo, que alegou doença para não ir filmar a façanha do dia, e contar sobre o aumento da coleção e a consequente tomada da liderança. A repórter entrou no carro de reportagem brava, tendo, durante a desmontagem do tripé, o seu pé fincado por uma das hastes, culpa do cameraman.

*Hugo Crema:

sou um brasiliense capricorniano que nunca publicarei meu primeiro romance, que já saí em certos sites e portais literários. Atualmente finalizo meu querido O BRANCO DO VASO DE FLORES e vivo de passado. Twitter: @hugocrema

Variação #6:

por Camila Fontenele*

Solilóquio

Vão dizer quantas pessoas podem sair de casa, a quantas horas, por quanto tempo, e por onde será permitido caminhar, durante quantos minutos, para que as turmas seguintes não sejam prejudicadas na regalia de ir e vir na cidade entupida?
Vão acabar com a cidade, todas as cidade, vão acabar com o homem e a mulher também, vão fazer o quê, depois que eles mesmos acabarem?

DE NOTÍCIAS E NÃO-NOTÍCIAS faz-se a crônica, de Carlos Drummond Andrade

Solilóquio (Camila Fontenele)

Solilóquio (Camila Fontenele)

Coisas de graça

– Queria. Por que não? Se este cafezinho me é servido de graça neste instante, e se eu voltar daqui cinco minutos depois, e mais cinco e mais cinco… até eu ficar entupido de café e bradas: chega, não quero mais! Por que não posso pensar que uma sociedade bem organizada serviria tudo a todos, a troco de sorriso?

DE NOTÍCIAS E NÃO-NOTÍCIAS faz-se a crônica, de Carlos Drummond Andrade

Coisas de graça (Camila Fontenele)

Coisas de graça (Camila Fontenele)

O outro

Depois, não só um Outro. São muitos, são vagos, são indefinidos: os Outros. Que é que os outros vão dizer? Mas os outros nunca dizem nada, apenas se receia que eles digam alguma coisa desabonadora ou cruel. Quem costuma dizer, e é antes abonador, é o Outro. Mas abona escondido, sopra ou insinua a sentença oportuna, para que ela corra mundo sem que o Outro, pessoalmente se comprometa. O Outro tem medo?

DE NOTÍCIAS E NÃO-NOTÍCIAS faz-se a crônica, de Carlos Drummond Andrade

O outro (Camila Fontenele)

O outro (Camila Fontenele)

Colecionadora

 – Quem lhe disse que o guarda-chuva há de ser preto, e que o preto é necessariamente uma cor desolada? A alegria dos pretos, a musicalidade, o samba, o senhor acha isso triste? E tem guarda-chuva de toda cor, não só guarda-sol que pode ser enfeitar de cores. A gente é que não sabe colorir a vida, e cria preconceito de que a determinadas coisas devem corresponder determinadas cores.

DE NOTÍCIAS E NÃO-NOTÍCIAS faz-se a crônica, de Carlos Drummond Andrade

Colecionadora (Camila Fontenele)

Colecionadora (Camila Fontenele)

*Camila Fontenele:

Estudante de publicidade, fotógrafa amadora, escritora por vontade, cantora de chuveiro, colecionadora de desapontamentos, viciada em post-it e café. Blog: http://asimplesedoceironia.blogspot.com / Flickr: http://www.flickr.com/photos/pelos_olhos_de_camila / Twitter: @ca_fontenele